Como a sensibilidade ao ruído perturba a mente, o cérebro e o corpo

Os médicos, muitas vezes, ignoram a sensibilidade ao ruído, mas ela pode causar efeitos de longo prazo à nossa saúde… [ ]

23 de setembro de 2025

Os médicos, muitas vezes, ignoram a sensibilidade ao ruído, mas ela pode causar efeitos de longo prazo à nossa saúde mental e física.

Toc, toc, toc.

Toc, toc, toc.

Ele está de volta: o ruído incessante dos meus novos vizinhos do andar de cima. Claramente, eles ainda estão em processo de pendurar quadros ou montar a nova mobília.

No edifício bem isolado onde moro no centro de Berlim, na Alemanha, o ruído do apartamento vizinho estava muitos decibéis abaixo do nível que incomodaria qualquer pessoa. Mas, para mim, é um barulho muito irritante.

Uma grave sensação de estresse corre pelo meu corpo. E a ansiedade é ainda pior. Quando eles vão terminar?

Aquele não é o único ruído que me perturba. Percebo o baque suave através do meu teto quando as pessoas vão para a cama.

Em algum lugar do edifício, ouço o barulho alto de um aspirador de pó e o som abafado de uma máquina de lavar. No outro, é o cachorro dachsund do vizinho que está latindo para ganhar um petisco. E nem vou falar dos sopradores de folhas e das lavadoras de alta pressão no lado de fora do prédio.

O ruído, por menor que seja, interrompe minha concentração e prejudica minha paz de espírito.

Faço parte do grupo de 10% a 40% da população em geral que tem sensibilidade a ruídos. Em outras palavras, o barulho me perturba e irrita mais do que a média das pessoas.

É fácil refutar a sensibilidade ao ruído como sendo uma falha de personalidade, um sintoma a mais do fato de ser beligerante, queixosa e irritável de forma geral. Mas, nos últimos anos, cientistas descobriram que esta condição tem raízes biológicas reais.

O cérebro das pessoas sensíveis ao ruído reage aos sons de forma diferente. E algumas realmente podem nascer com isso.

O ruído afeta não só o humor imediato dessas pessoas, mas também sua saúde mental e física de longo prazo.

Existem soluções simples para esta condição, mas conhecer os seus efeitos pode ajudar as pessoas sensíveis a ruídos a tomar medidas para tornar suas vidas mais toleráveis.

“Poderíamos dizer que essa é uma daquelas questões frequentemente menosprezadas… que são simplesmente descartadas pelos profissionais de saúde”, afirma o neurocientista Daniel Shepherd, da Universidade de Tecnologia de Auckland, na Nova Zelândia.

Apenas nos últimos anos, “as pessoas realmente começaram a dizer ‘OK, isso realmente prejudica a experiência dos pacientes'”, segundo ele. “Precisamos realmente começar a cuidar disso.”

A sensibilidade ao ruído não é um diagnóstico médico formal. As pessoas podem descobrir se são sensíveis ao ruído preenchendo questionários, como a escala de sensibilidade ao ruído de Weinstein, que inclui 21 questões.

Elas incluem, por exemplo, se você se irrita com pessoas sussurrando e abrindo embalagens de doces no cinema, com pessoas fazendo barulho quando você está tentando dormir ou trabalhar e até se o som da música perturba você quando tenta se concentrar em alguma coisa.

A sensibilidade ao ruído é diferente de outras condições relacionadas ao som, como a misofonia, explica a médica Jennifer Brout, fundadora da Rede Internacional de Pesquisa sobre a Misofonia, com sede nos Estados Unidos.

A misofonia é a baixa tolerância a certos sons específicos, como mastigar, limpar a garganta, batidas ou cliques. Estes ruídos ativam sensações intensas de repulsa ou raiva, segundo Brout.

A sensibilidade ao ruído também é diferente da hiperacusia, que faz as pessoas sentirem dores ou desconforto extremo ao perceberem o som como se fosse mais alto do que a realidade.

Já a sensibilidade ao ruído é uma reatividade geral a todos os sons, independentemente do seu volume real ou percebido.

As pessoas sensíveis a ruídos acham o som, no mínimo, perturbador e ficam incomodadas, sentem raiva ou até medo ou ansiedade.

“Eu me lembro de uma pessoa que descreveu a sensibilidade como ter um mosquito voando à sua volta”, conta Shepherd. “Você simplesmente não consegue ignorar.”

Para as pessoas que têm medo dos ruídos, esta condição pode deixá-las estressadas a ponto de desencadear uma reação de lutar ou fugir.

“Seus batimentos cardíacos aumentam, sua pressão sanguínea sobe”, explica o psiquiatra Stephen Stansfeld, professor emérito da Universidade Queen Mary de Londres.

E a qualidade do sono também pode ser prejudicada. Em um estudo de 2021 na China, pesquisadores acompanharam os padrões de sono de 500 adultos e os níveis de ruído noturno ao longo de uma semana.

Eles concluíram que o ruído em si não afetou a qualidade do sono das pessoas, mas indivíduos sensíveis ao ruído costumavam achar seu sono menos restaurador. Eles avaliaram seu sono como menos repousante e afirmaram que se sentiam mais mal-humorados e com menos energia ao longo do dia.

Efeitos à saúde física

 

A exposição aos ruídos também foi relacionada a efeitos de longo prazo à saúde, incluindo doenças cardíacas e diabetes. E as pessoas sensíveis a ruídos podem sofrer mais impactos à sua saúde mental, segundo Stansfeld.

Em um estudo de 2021, ele e seus colegas examinaram 2.398 homens da cidade de Caerphilly, no País de Gales, que foram expostos a diferentes níveis de ruído do trânsito. E os mais sensíveis ao ruído apresentaram maior propensão a sofrer de ansiedade e depressão a longo prazo.

Isso pode ocorrer, em parte, porque as pessoas ansiosas são mais vigilantes em relação ao que acontece perto delas e, portanto, mais propensas a perceber barulhos. Mas também é possível que a sensibilidade ao ruído aumente a ansiedade.

Em 2023, uma pesquisa reuniu 1.244 adultos que moram perto de aeroportos na França e concluiu que as pessoas gravemente perturbadas pelo nível de ruído das aeronaves (especialmente alguns indivíduos sensíveis a ruídos) eram mais propensos a avaliar sua saúde em geral como ruim.

Mas por que algumas pessoas apresentam reação mais negativa ao ruído do que outras? Estudos do cérebro de pessoas sensíveis a ruídos revelam algumas indicações a este respeito.

Shepherd e seus colegas conectaram aparelhos às pessoas, para medir a atividade elétrica no cérebro. Eles descobriram que os participantes que não eram sensíveis a ruídos mostravam atividade cerebral maior apenas quando os pesquisadores os expunham a sons ameaçadores.

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Djair Prado, Cursando Jornalismo (EAD) pela Universidade Estácio de Sá – 2º período, é bacharel em Administração pela Universidade Federal do Piauí (UFPI – Campus Parnaíba) e atuo desde 2015 na área jornalística, por meio do Blog Djair Prado, em toda a região do Baixo Parnaíba, Delta do Parnaíba e Lençóis Maranhenses.