Um Tory perdido no século XXI!

Prof. Dr. Geraldo Filho – UFDPar (05/12/25)   Quando o Serviço de Inteligência do Exército Alemão, na 2ª Guerra (1939-45),… [ ]

6 de dezembro de 2025

Prof. Dr. Geraldo Filho – UFDPar (05/12/25)

 

Quando o Serviço de Inteligência do Exército Alemão, na 2ª Guerra (1939-45), traçou o perfil comportamental do General George Smith Patton III, Comandante do 3º Exército dos EUA, na Europa, concluiu sobre o genial líder militar: “Um cavalheiro romântico perdido no século XX!”. O comentário se referia a um fato ocorrido antes da Guerra, na saída de um teatro, no qual o General defendeu a honra de uma senhora vítima de agressão e insultos do marido!

 

Corto para o século XXI, e me vejo numa terrível desesperança, ao encerrar o semestre letivo de 25/2, em um país preso nas consequências malévolas do crime cometido contra a Família Imperial Brasileira, com o Golpe Republicano de 1889! Desde então, criou-se um “looping” temporal (repetição dos mesmos acontecimentos, em contextos diferentes) na história política do país!

 

O “looping republicano” se caracteriza pela lenta degradação do espírito de nação, consolidado no Império do Brasil e personificado pela figura do Imperador Dom Pedro II, que como detentor do Poder Moderador (previsto pela Constituição de 1824), pairava acima dos partidos, atuando como árbitro dos interesses políticos e econômicos das oligarquias provinciais (os estados), priorizando as necessidades do Estado do Brasil.

 

Em contextos diferentes, após a Proclamação da República, os interesses locais das oligarquias (grupos políticos) estaduais geralmente prevaleceram sobre os nacionais, impedindo que o Brasil percorresse caminho seguro de crescimento e desenvolvimento. Assim, se durante a República Velha (1889-1930), as oligarquias agrárias e pecuaristas que dominavam o governo federal pouco favoreceram a criação de infraestrutura e concessão de créditos para a industrialização; na Era Vargas, período inaugurado com a Revolução de 30 e que só terminará em 1985, com o fim do Regime Militar (1964-1985), assistiu-se ao domínio das nascentes oligarquias industriais e bancárias, que se fortaleceram com os financiamentos públicos (via Banco do Brasil) e a proteção estatal (via altos impostos de importação) contra a concorrência externa, reduzindo-se sensivelmente o protagonismo político das antigas oligarquias rurais!

 

Observem que de 1930 até 1985 nenhum presidente, ou a elite dos seus governos, era vinculado diretamente à defesa das atividades agropecuárias como negócio (“business”), reflexo do pouco prestígio político do setor. Foi só na Nova República, a parir de 1985, que os ruralistas voltaram a desempenhar papel político importante, porém, não decisivo, agora como agronegócio (“agrobusiness”)! Deixados no ostracismo por 55 anos e pressionados pela alta tecnologia do processo de globalização (integração das economias pelas cadeias mundiais de produção e fornecimento de bens e serviços) o setor rural se “industrializou”, aderindo à tecnologia dos sistemas de informação e da bioengenharia (melhorias genéticas de animais e plantas)!

 

Tanto na República Velha como na Era Vargas o espírito de nação, com um caminho a seguir para o crescimento e desenvolvimento, foi sabotado pela visão míope e mesquinha das elites no poder, que não conseguiram chegar a um consenso para uma direção em conjunto, na qual “todos pudessem ganhar” e não “um ganhar e o outro perder”! Faltou um Poder Moderador, que era aquele da Família Imperial, que por estar acima das oligarquias e pela qualificação dos seus membros pudesse mediar os conflitos de interesses dos grupos políticos.

 

Vejam agora a Nova República, a partir de 1985. A falta de espírito de nação, que se traduzisse em “governos de Estado” (com foco no agora e nas gerações futuras) e não em “governos de partidos” (com foco nas eleições seguintes), foi se degradando e depravando em corrupção, agravando o quadro de instabilidade e crises dos períodos anteriores com a ascensão de nova força política: a esquerda comunista, que encontrou nas massas incultas de um país que sempre teve horror ao estudo e a leitura o público-alvo! Estava armado o caldeirão do caos!

 

O espírito de nação foi sacrificado em nome do projeto de poder autoritário de um partido de esquerda, que herdou a infiltração comunista desde os anos 30 nas universidades, na igreja católica (com a teologia da libertação), na imprensa, no judiciário, na administração pública (federal, estadual e municipal), no meio artístico e nas escolas (método Paulo Freire), organizada por sindicatos, criando verdadeiras oligarquias de militantes ignorantes (certamente a maioria nunca leu uma linha da Karl Marx e Friedrich Engels!), mas com considerável poder de mobilização e votos! A sedução é a manjada utopia de um mundo igual e justo, no qual não haja opressão e todos sejam felizes! É muita ingenuidade, incultura e falta de experiência na vida para acreditar numa bobagem dessas! Assim, o “looping republicano” recomeçou com a Nova República e miseravelmente se arrasta até agora!

 

Eu, que conheço a obra de Joaquim Nabuco, que de jovem republicano tornou-se monarquista convicto e defensor da Família Imperial; que conheço a obra de Francisco de Oliveira Vianna, que diagnosticou a traição do espírito de nação pelas elites regionais, que viviam alienadas nos domínios territoriais locais, olhando para o próprio umbigo desde o Período Colonial e, portanto, sem nenhuma noção de nacionalidade, espírito nacional, de Brasil; retrocedo um pouco mais no tempo a procura de consolo para minha desesperança, buscando entender como, essa terra naturalmente maravilhosa, pôde chegar tão baixo na degradação da moral pública e depravação das instituições a ponto de eleger por 18 anos, para dirigir seu destino e o futuro dos seus filhos, indivíduos sem nenhuma qualificação para presidir absolutamente nada! Nesse mergulho mais fundo encontro a luta inglória de Jose Martiniano de Alencar, o grande romancista cearense!

 

As obras políticas de José de Alencar são suas Cartas ao Imperador e ao Povo do Brasil, publicadas entre 1865 e 1868 nos jornais da época, quando se alternavam no Parlamento o partido Liberal e o Conservador. O tema central das cartas era o apelo ao Imperador, o Poder Moderador, para tirar a nação da crise política, moral, militar e financeira na qual se achava como decorrência da incompetência, da corrupção, do descaso pela coisa pública que se instalou no governo do Império (o Brasil era então uma monarquia parlamentarista).

Deixarei ecoar a voz do passado de José de Alencar, convidando aos de hoje para identificarem as semelhanças com o agora, e talvez perceberem as raízes do “looping republicano”:

 

“O Brasil passa neste momento um transe bem doloroso. (…) nós chegamos já às sombras crepusculares de uma tarde medonha; os pródromos [inícios] da tormenta [tempestade] são sinistros (…).

(…) Montesquieu deixou escritas estas palavras: ‘A desgraça de uma república é a carência de luta; sucede isso quando corrompem o povo [bolsas e auxílios dos mais diversos tipos, como o Bolsa Família]; ele torna-se frio [acomodado] e se afeiçoa ao dinheiro; mas perde o gosto aos negócios [desestímulo para trabalhar]. Sem interesse pelo governo e pelo que lhe propõem espera tranquilamente o salário.’

Quem não sente a presença desse grave e terrível sintoma de corrupção, na infeliz atualidade, em que tudo se merca [vende] e barateia, voto, honra, e reputação?” (Carta de 17/11/1865)

 

José de Alencar era do Partido Conservador, inspirado no Partido Conservador Inglês (origem dos partidos modernos), portanto um “tory”! Ele clamava pelo socorro do Imperador, para salvar o Brasil de si mesmo, não conseguiu e a Família Imperial foi deposta 24 anos depois, em 1889, inaugurando de vez a lenta destruição de um promissor país, porém pelo menos ele tinha a quem pedir ajuda! Hoje, eu, como um “tory” perdido no século XXI, não tenho a quem recorrer, e finalizo com a frágil esperança de Alencar, que ainda poderia ser a minha:

 

“(…) Não tenho ambição nem interesse (…) mas sinto ardente o amor da pátria e veemente a impulsão do dever que arroja [lança] o homem ao martírio da justiça e da verdade.

Levanto o pendão [bandeira] de uma cruzada [luta] santa. Convocai para ela, senhor [o Imperador], vós que podeis, todos os homens honestos; congregai-os ao redor de vosso trono para que sobre as ruínas dos antigos partidos desbaratados [devastados] pelo egoísmo, se eleve o grande partido da lei e da moralidade.

O povo espera de vós: que aniquileis os bandos de ambiciosos que se associam para explorar as desgraças públicas em proveio seu; que expulseis dos santuários da nação os réus [criminosos] de improbidade política (…); que ordeneis aos poderosos o respeito à moral e à justiça (…).

(…) tereis esmagado a hidra [serpente monstruosa de várias cabeças] da corrupção que ameaça devorar a pátria.” (Carta de 17/11/1865)

 

Fonte: BLOG DO PESSOA

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Djair Prado, Cursando Jornalismo (EAD) pela Universidade Estácio de Sá – 2º período, é bacharel em Administração pela Universidade Federal do Piauí (UFPI – Campus Parnaíba) e atuo desde 2015 na área jornalística, por meio do Blog Djair Prado, em toda a região do Baixo Parnaíba, Delta do Parnaíba e Lençóis Maranhenses.