O Brasil está enfrentando a quarta onda de calor no ano, com novos recordes de temperatura e alerta de “grande perigo” para 15… [ … ]
16 de novembro de 2023
Temperaturas mais altas são comuns nesta época do ano, de transição entre a primavera e o verão. Mas, desta vez, o calor foi intensificado pelo El Niño, fenômeno que deixa as águas do oceano mais quentes, e pelos efeitos do aquecimento global, provocado pelas emissões de gases do efeito estufa.
Neste ano, outras regiões do mundo também enfrentaram ondas de calor extremo, como Estados Unidos, China, Índia, Paquistão e Europa.
E a expectativa é de piora: estudos científicos estimam que conforme a temperatura média global aumente, cresçam também a frequência e a intensidade de ondas de calor.
No Brasil, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), publicados pelo g1, já mostram um aumento brutal de ondas de calor nos últimos 59 anos: se até os 1990, elas somavam 7 dias, entre 2011 e 2020 chegaram a 52 dias.
O problema é que o calor excessivo traz consequências sérias para a sociedade, como piora de condições de saúde, prejuízos para o cultivo e a colheita de alimentos, danos à infraestrutura e redução da produtividade no trabalho.
A exposição excessiva ao calor apresenta riscos à saúde e pode causar problemas como desidratação, tontura, náuseas, confusão mental, convulsões e, em casos extremos, até a morte. Os riscos, em geral, são maiores para idosos, crianças pequenas e pessoas com comorbidades.
Em 2019, pelo menos 356 mil mortes no mundo foram diretamente relacionadas ao calor extremo, de acordo com um artigo publicado na revista de medicina The Lancet. Dados da ONU estimam que, entre 2000 e 2019, 489 mil mortes por ano foram causadas pelo calor —45% na Ásia e 36% na Europa. Nos Estados Unidos, o calor extremo já é o evento climático mais mortal de todos, com mais vítimas na maioria dos anos do que furacões, tornados e enchentes somados.
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Para responder ao calor, o corpo humano redistribui o fluxo sanguíneo, transferindo o calor dos músculos para a pele e, depois, para o ambiente na forma de suor. Esse processo exige, segundo a Lancet, que o coração trabalhe com mais força e rapidez, aumentando os riscos para pessoas com doenças cardíacas, por exemplo. De acordo com a Lancet, idosos morrem mais de eventos cardiovasculares do que quase todas as outras causas de morte relacionadas ao calor combinadas.
Também é difícil dormir nas noites quentes.
Ao longo dos últimos anos, várias pesquisas vem mostrado correlações entre aumentos expressivos de temperatura e problemas de saúde mental.
Ondas de calor e dias de calor extremo vem sendo associados à maior irritabilidade, ao aumento de sintomas de depressão e ansiedade e até a um maior número de suicídios. A dificuldade de dormir bem no calor também pode agravar sintomas de doenças mentais.
Um estudo publicado em fevereiro na Lancet mostrou que o aumento acima do usual de apenas 1ºC na temperatura ambiente aumenta a probabilidade de sofrer depressão e ansiedade.
Temperaturas mais altas do que o normal também podem levar a problemas de memória, atenção e de reação, segundo a Associação Americana de Psiquiatria. Há, ainda, evidências da relação entre temperaturas muito altas e o aumento da violência e da agressividade.
O calor extremo afeta a produtividade das pessoas no trabalho por aumentar o risco de estresse térmico (excesso de calor recebido que o corpo consegue tolerar sem comprometer as funções fisiológicas), que impacta, principalmente, aqueles que trabalham ao ar livre —como agricultores, operários da construção civil e da indústria naval— ou em espaços mal ventilados e sem ar-condicionado, caso de muitos dos milhões de trabalhadores da indústria têxtil.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), temperaturas acima dos 24 a 26ºC já estão associadas à redução da produtividade de trabalho. A 33 ou 34ºC, trabalhadores perdem cerca de 50% da sua capacidade de trabalho em atividades de intensidade moderada.
Uma estimativa conservadora da OIT, baseada em um aumento global da temperatura de 1,5ºC até o fim do século, prevê que, até 2030, mais de 2% do total de horas de trabalho devem ser perdidas anualmente em todo o mundo por causa do calor. Essa redução é equivalente à perda de 80 milhões de vagas de tempo integral.
De acordo com as estimativas, as regiões mais afetadas são o sul da Ásia e a África Ocidental, com perdas de 5,3% e 4,8% de horas trabalhadas — na América do Sul a previsão é de queda de 0,8%.
Em termos econômicos, o aumento do estresse térmico deve custar US$ 2,4 trilhões (R$ 11,68 trilhões) em 2030, segundo a OIT.
Temperaturas mais altas que o normal podem afetar a produção agrícola de diferentes maneiras, a depender da combinação com maior ou menor umidade do ar, precipitação e do tipo de cultura. O calor pode impactar negativamente a qualidade de hortaliças, por exemplo, e reduzir os rendimentos de culturas, como soja, milho e algodão.
Em setembro, pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) recomendaram que os produtores de soja do Mato Grosso do Sul adiassem o início da semeadura para depois da onda de calor, já que temperaturas extremas no solo podem causar danos às sementes, afetando a germinação e o desenvolvimento.
Em agosto, durante a onda de calor na Europa, o calor extremo e o tempo seco provocaram quebra na safra de grãos e a colheita de trigo teve que ser feita de forma mais rápida do que o normal. Já na China, com regiões enfrentando recordes de temperatura em meados deste ano, porcos, coelhos e peixes morreram por causa do calor extremo, segundo a imprensa internacional.
Com o calor, aumenta o uso de ares-condicionados e ventiladores, levando a um crescimento da demanda por energia elétrica. Nesta terça-feira (14), o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) registrou um novo recorde da demanda nacional: pela primeira vez na história, a carga no sistema elétrico ultrapassou o patamar de 100 GW (gigawatts).
O aumento do uso de eletricidade em dias muito quentes coloca pressão no sistema elétrico justamente quando as pessoas mais dependem dele e pode, eventualmente, provocar apagões e outras falhas.
Em 2020, por exemplo, temperaturas extremas na Califórnia, nos Estados Unidos, levaram a interrupções programadas no fornecimento de energia, impactando cerca de 4 milhões de pessoas. Já no ano passado, na Índia, o calor extremo também levou a cortes de energias nas fábricas para reduzir o consumo de eletricidade em meio à escassez de carvão nas usinas termelétricas.
No início de setembro, quando os termômetros do município cearense de Santa Quitéria marcaram 39ºC, o asfalto “derreteu” em um trecho recapeado, que, amolecido, passou a grudar nos pneus dos veículos que passavam. No caso, o material usado era de baixa qualidade, o que explica o fato de o problema ter sido localizado, mesmo diante de temperaturas ainda mais altas em outras cidades.
Mesmo assim, o calor extremo pode prejudicar a infraestrutura, já que muitos materiais utilizados em ruas, estradas e ferrovias, como concreto, asfalto e aço, são afetados por mudanças de temperatura.
O asfalto, por exemplo, pode amolecer com temperaturas mais altas. Já o concreto, usado muitas vezes em rodovias, pode expandir, provocando rachaduras ou encurvaduras. No caso das ferrovias, a flambagem também pode acontecer com temperaturas mais altas do que o normal devido à dilatação do aço. A empresa responsável pela rede ferroviária do Reino Unido publicou um comunicado para explicar que o calor tem atingido níveis mais altos do que aqueles que as linhas de trem foram projetadas para suportar, encurvando trechos dos trilhos.
Via G1
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